Frei Patrício Sciadini, ocd, religioso,
Carmelita Descalço; escreveu mais de 60 livros, publicados no Brasil e no
exterior e atualmente é o delegado geral no Egito.
Hoje assistimos a um silêncio que oprime e
que deve ser rompido com a coragem profética para que a cadeia das injustiças
institucionalizadas não continue a silenciar milhões de pessoas que gritam no
deserto.
Este silêncio de morte que vemos por ai
desde o silêncio do medo que a máfia de todas as matizes espalham ao seu redor
e o “não sei não vi, não escutei”, ao silêncio dos trabalhadores que diante de
salários injustos não podem reclamar pelo medo de ficar sem trabalho e ter uma
vida pior. Do silêncio das crianças abortadas que não podem nem gritar e nem
defender-se ao silêncio dos presos e torturados que devem calar para que outros
não sofram injustamente. Estes silêncios invadem os meios de comunicação que, a
serviço de poderosos, falsificam a verdade e se colocam do lado do poder para
ter cada vez mais um posto mais alto.
Há o silêncio do diabo que está ao lado
dos justos e dos santos e com sua presença silenciosa invade o temor e
insegurança, gerando o medo coletivo. Não é este o silêncio que deve ser
mantido. Este silêncio deve ser rompido para que a voz da verdade possa ser
ouvida em todos os lados e que nasça no coração das pessoas o silêncio da
esperança que está para nascer. O silêncio é útero da sabedoria a verdade. É no
mais profundo de si mesmo que o ser humano necessita descer não para escutar a
si mesmo, as suas lamúrias e fracassos ou sonhos idealizados, mas sim para
escutar a voz de Deus que o chama a assumir corajosamente a sua identidade de
pessoa de cristão sem ter medo de nada e de ninguém.
O Papa, na sua catequese sobre o silêncio,
nos recorda citando Santo Agostinho, “que na medida que o Verbo crescer, a
palavra do homem diminui”. Aliás diante de Cristo verdade caminho e vida
somente tem espaço para o silêncio. O caminho que deve ser percorrido é fugir
do “barulho”, seja qual for, quer seja visivo com as imagens que as TV,
internet e outros meios jogam com abundância dentro de nós e que nos impedem de
refletir, de avaliar, não nos dão o tempo de avaliar os fatos porque quando
você começa a pensar é outra imagem que vem e leva longe a primeira. O barulho
auditivo que nos persegue todos os dias e sentimos que sempre mais é necessário
gritar mais forte para que possa ouvir o barulho distante do outro, mas não
escutá-lo.
É um burburinho que chega até nós, sons
convulsivos, mas não inteligíveis. São músicas, são palavras que impedem o ser
humano de saber “escutar-se e escutar aos demais”; recuperar o silêncio
exterior é fundamental. Criar pelo menos uma vez por semana um “oásis de
silêncio exterior”, onde possamos permanecer “a sós” duas ou três horas para
ouvir a doce brisa que chega até nós e na qual o Deus da vida está escondido( 1
Rs 19, 12) Quando o silêncio é fuga se torna não comunicação, nervosismo, mal
estar e espalha ao seu redor um clima de desconfiança e de tristeza.
Quando o silêncio é comunicação é como o
perfume que faz sentir sua presença embora não seja palpável. É neste silêncio
que devemos entrar novamente para compreender o que diz o místico João da Cruz “Uma palavra
falou o Pai, que foi seu Filho, e a fala sempre em eterno silêncio e, em
silêncio, há de ser ouvida pela alma.” Os místicos não são pessoas anti-sociais,
mas exemplos de comunicação. Cada palavra que eles pronunciam é palavra de
vida, de esperança, de alegria e de amor. E quando a palavra “é como espada a
dois gumes que penetra até o miolo dos ossos” é para que seja operadora de
conversão e de salvação. Somente quando o ser humano redescobrir a necessidade
do silêncio para se medir consigo, com os outros e com Deus, saberá que a força
do testemunho não é palavra, mas o silêncio, o doce silêncio. Dando a palavra
ainda a João da Cruz:
A noite sossegada,
Quase aos levantes do raiar da aurora;
A música calada,
A solidão sonora,
A ceia que recreia e que enamora.(C 15)
É o momento de praticar o que Jesus nos
ensina se queremos rezar, falar com Deus e escutar seu Filho bem amado: “desce
em você, fecha a porta e fala ao Pai.” (Mt 6)
Sem comentários:
Enviar um comentário